segunda-feira, 28 de março de 2011

pois em amor acontece que as contribuições imaginárias de nós mesmos suplantam aquelas que nos vêm da criatura amada

"Desde que vira Albertine, fazia todos os dias mil reflexões a seu respeito, mantinha com o que eu chamava Albertine todo um colóquio interior, em que lhe inspirava perguntas e respostas, pensamentos e ações e, na série indefinida de Albertines imaginadas que se sucediam em meu espírito de hora a hora, a Albertine de verdade, a que vi na praia, só figurava à frente como a criadora de um papel, a estrela, só aparece nas primeiras de uma longa série de apresentações. Essa Albertine quase se reduzia a uma silhueta; tudo o que lhe sobrepunha era da minha invenção, pois em amor acontece que as contribuições imaginárias de nós mesmos suplantam - ainda que apenas do ponto de vista de quantidade - aquelas que nos vêm da criatura amada. E isso é certo no tocante aos amores mais efetivos."

(Marcel Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 2 - À sombra das raparigas em flor.Tradução de Mario Quintana. Ed. Globo, p. 512-513)

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