domingo, 6 de março de 2011

uma palavra-ausência, uma palavra-buraco (Marguerite Duras)


“Gosto de acreditar, como gosto dela, que se Lol está silenciosa na vida é porque acreditou, no espaço de um relâmpago, que a palavra podia existir. Na falta de sua existência, ela se cala. Teria sido uma palavra-ausência, uma palavra-buraco, escavada em seu centro para um buraco, para esse buraco onde todas as outras palavras teriam sido enterradas. Não seria possível pronunciá-la, mas seria possível fazê-la ressoar. Imensa, sem fim, um gongo vazio, teria retido os que queriam partir, os teria convencido do impossível,  os teria ensurdecido a qualquer outro vocábulo que não ele mesmo, de uma só vez os teria nomeado, o futuro e o instante. Faltando, essa palavra estraga todas as outras, contaminando-as, é também o cão morto da praia em pleno meio-dia, esse buraco de carne. Como foram encontradas as outras?

(Marguerite Duras in: O deslumbramento. Ed. Nova Fronteira, p. 85)

5 comentários:

  1. O texto é lindo, mas involutariamente lembrei de LOL - \O/

    excesso de imaginação...

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  2. "porque acreditou, no espaço de um relâmpago, que a palavra podia existir. Na falta de sua existência, ela se cala."

    belo demais!!!!

    Zil

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  3. Palavras... como seria se elas não existissem?

    Bjs!

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  4. Palavra-ausência constitutiva.

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  5. "-Continuo sem entender os nomes.
    -A natureza dos nomes não pode ser descrita,apenas vivenciada.
    (...)As palavras são pálidas sombras de nomes."
    Patrick Rothfuss em "A Sombra do Vento".

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