sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Caio F. e o fluxo de consciência

"(...) a frase de Beckett dando voltas na cabeça: nenhuma dor, quase nenhuma dor... (...) tons dourado, flores mortas, como te amei e não disse... (...) sinto falta de você... (...) e se eu dissesse de repente e sem pudor eu-te-amo? (...) Olhar com medo, olhar com interesse, olhar com perdão, olhar com naúsea e paixão, e de jeito nenhum compreender nada de onde se está desgraçamente metido... (...) que falta de Ana C.... (...) tudo o que você quiser... (...) ninguém dizendo meu amor, suspeitas... (...) uma carta que não chega nunca... (...) sen-si-bi-li-da-de-ex-ces-si-va não, meu caro: honestidade... (...) saudade, saudade inútil o tempo todo de qualquer coisa indefinida, de alguém desconhecido... (...) ter certeza de que em algum ponto do caminho se perdeu e ponto, e pronto, acabou, e para sempre... (...) por favor me leva daqui para que eu me esqueça de onde sei que estou metido... (...) bota Billie Holliday baixinho, depois me dá um beijo na boca... (...) empurrado pela desordem, sobrevivendo ao naufrágio, agarrado mísero e adjetivoso a meu pedaço de madeira flutuante, e agora chega, chega, let it be, let it be, baby, que la vie, em rose ou black no duro... (...) Quanto a vocês, salve-se quem puder. Porque quanto a mim, querida, querido, queridos - eu? Ah: eu juro por todos os santos que sei muitíssimo bem onde estou metido."

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "A vida é uma brasa, mora?". Ed. Nova Fronteira, p. 25-26. O Estado de S. Paulo, 6/5/1986)

Imagem: Willian Eggleston

http://www.facebook.com/vencaluisa

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