terça-feira, 28 de julho de 2015

das tragédias individuais

As tragédias individuas não são assinaladas por placas, homenagens, celebrações. Falta-nos o tempo para as acolher e são demasiado próximas de nossa vida.

Inês Pedrosa in: Desamparo. Ed. D. Quixote.

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segunda-feira, 27 de julho de 2015

da sobrevivência

Instinto de sobrevivência. Já havia sobrevivido a muito. Talvez a vida não seja mais do que sobrevivência.

Inês Pedrosa in: Desamparo. Ed. D. Quixote.

Talvez...
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domingo, 26 de julho de 2015

da compulsão

Essa sempre foi a maneira com a qual lidava com isso, ou então trabalhando compulsivamente, ou era compulsivo em tudo - exagerando a alegria, que virava euforia, exagerando a dor, que virava sofrimento, exagerando a solidão, que virava isolamento, exagerando o medo, que virava pânico, ou exagerando a desconfiança que virava paranoia.

Renato Russo in: Só por hoje e para sempre. Companhia Das Letras, p. 73.

sábado, 25 de julho de 2015

O presente é pura tensão, a vizinhança da ansiedade

Teu movimento é a tua saúde. Se a flecha não parte, és tu que ficas. É indispensável que a flecha esteja a caminho do alvo que, bem ou mal, miraste. Tua mente se deteriora se não te comprometes com o futuro. O resto é supérfluo. O passado é só a certeza de que existe no futuro uma outra janela, uma outra pessoa, melhor ou pior, outro tipo de amor ou tédio. O presente é pura tensão, a vizinhança da ansiedade, caso a flecha não parta. Se afrouxares a corda do presente, adoecerás em ti mesmo. Portanto, faz projetos. Planeja a viagem; muda de casa; marca hora no dentista.


Paulo Mendes Campos in: De um caderno cinzento. Companhia Das Letras, p. 25.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

pensando obsessivamente no que poderia ter sido

É tudo muito prejudicial e improdutivo, principalmente porque me levo a um estado de depressão, autopiedade e falta de esperança na vida - pensando obsessivamente no que poderia ter sido. Também tenho que ter cuidado, pois vejo em mim uma tendência a deixar que lembranças eufóricas transformem o passado em um sonho ideal, quando na verdade nosso relacionamento sempre foi difícil e as duas últimas semanas em que estivemos juntos, especialmente insuportáveis e dolorosas.

Renato Russo in: Só por hoje e para sempre. Companhia Das Letras, p. 105.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

dos cadernos

O hábito de juntar cadernos é - ou pelo menos era - com entre escritores. Ao longo dos últimos anos substituídos por arquivos gravados, muitos desses cadernos ainda sobrevivem em acervos pessoais, seja em casa de autores, seja confiados a instituições.

Elvia Bezerra na apresentação de: De um caderno cinzento, Paulo Mendes Campos. Companhia Das Letras, p. 7.

P.S.: parte do meu acervo de ideias ficcionais em cadernos/blocos na foto.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

a brochice dos "inhos"

Um líder importante é apresentado a Mario Quintana:
- Gosto muito de seus versinhos.
- Obrigado pela sua opiniãozinha.
O poeta me diz mais tarde que, não encontrasse essa resposta, não teria dormido naquela noite.

Paulo Mendes Campos in: De um caderno cinzento. Companhia Das Letras, p. 31.


sexta-feira, 17 de julho de 2015

a vida, a literatura

A melhor maneira que eu tinha de melhorar minha literatura era viver o máximo de experiências possíveis".

Caio F.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

da coragem

Tenho também Nina, mas não a tenho, tenho também um trabalho, mas não o tenho. É necessário coragem para possuir as coisas, o homem velho diz, porque coragem não é só sair por aí vociferando meia dúzia de ideais, coragem é ser capaz das coisas mais prosaicas, como ter coisas que te prendam a um lugar, que te amarrem, coisas que pesem sobre teus ombros.

Carola Saavedra in: Inventário das coisas ausentes. Companhia das Letras.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

das fugas

Porque o peso não te deixa ir embora, ao contrário de você, que construiu uma vida pensando em sair correndo na primeira oportunidade, porque é assim que você vive, como se fosse sair correndo. Por isso você não tem nada, por pura covardia, porque você vive na ilusão de que é possível fugir, e eu olho para você e penso, o que aconteceu, quando foi o momento em que você se transformou nisso, quando foi esse instante, quando você se transformou nisso que você é, diz o homem velho, e eu penso, aos quarenta e seis anos, tudo o que eu tenho é isso que eu sou, e o desejo de sair correndo, essa covardia.

Carola Saavedra in: Inventário das coisas ausentes. Companhia das Letras.

domingo, 12 de julho de 2015

unhappy end

(...) o passeio era nossa despedida. Nosso unhappy end. Não arranjei coragem para a contar a ela... Não quis arruinar um momento perfeito.

(Marçal Aquino in: Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Ed. Companhia Das Letras)

sábado, 11 de julho de 2015

Dedicou-se a colher prova da passagem do tempo sobre o corpo de uma mulher bela e triste - sempre triste, mesmo quando sorria para a câmera.

(Marçal Aquino in: Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Ed. Companhia Das Letras)


sexta-feira, 10 de julho de 2015

dos rastros

Penso, o que será do passado quando os rastros se forem e ficar apenas a memória. Como se os rastros dissessem alguma coisa. Os rastros contam sempre uma outra história. (...) As palavras parecem ter perdido sua substância, como uma fruta que tivesse perdido sua carne e restasse apenas a casca. A casca das palavras é frágil e ressecada. Eu te amo, diz o texto. Talvez entre o eu te amo e o amor propriamente dito haja um espaço intransponível. Talvez o tempo que passa. Mas não apenas. Talvez um inevitável desencontro. Essa incoerência.

Carola Saavedra um: O inventário das coisas ausentes. Companhia das Letras.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

estado de espírito

Vigilância constante era o meu lema. Um estado de espírito de otimismo cauteloso deve existir, mas na verdade meu estado de espírito fica mais bem descrito como o de pessimismo cauteloso.

Erica Jong in: Medo de voar. Ed. Nova Cultural, p.14.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

e tem mais...

A tristeza e o acúmulo de mágoas pormenorizadas, enquanto a verdadeira raiva ainda estava por vir.

Ian McEwan in: A balada de Adam Henry.

terça-feira, 7 de julho de 2015

do ofício

Faulkner aprendeu seu ofício enquanto trabalhava na agência de correio de Oxford, Mississippi. Outros escritores aprenderam o básico enquanto serviam na Marinha, trabalhavam em siderúrgicas ou passavam uma temporada nos melhores hotéis com janelas de grades dos Estados Unidos. Eu aprendi a parte mais valiosa (e comercial) de meu trabalho enquanto lavava lençóis de motel e toalhas de mesa na lavanderia New Franklin, em Bangor. Aprendemos mais lendo muito e escrevendo muito, e as lições mais valiosas são aquelas que ensinamos a nós mesmos.

Stephen King in: Sobre a escrita. Suma de Letras, p. 201-202.

domingo, 5 de julho de 2015

das brigas

Há certas brigas que parecem ter estado ali o tempo todo, esperando para tomar corpo. Qualquer descuido. Brigas que carregam consigo todos os ódios, todas as frustrações. Brigas assim, quando começam, não há nada capaz de freá-las, como se alimentadas por uma força inesgotável. E foi o que aconteceu...

Carola Saavedra in: O inventário das coisas ausentes. Companhia das Letras.


sábado, 4 de julho de 2015

simples assim

- Como faz o senhor - perguntava Proust a Anatole France -, como faz para saber tantas coisas?
- É muito simples, meu caro Marcel: quando eu tinha sua idade, não sendo bonito como você nem agradando muito, eu não frequentava a sociedade, ficava em casa e lia, lia sem parar.

André Maurois in: Em busca de Proust.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

paisagens

É em nós que as paisagens têm paisagens.

Bernardo Soares

quinta-feira, 2 de julho de 2015

sobre o coração

Meu coração é um pórtico partido
Dando excessivamente
sobre o mar

Fernando Pessoa

quarta-feira, 1 de julho de 2015

quanto mais...

O amor pede identidade com diferença, o que é impossível já na lógica, quanto mais no mundo.

(Bernardo Soares)